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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Mali: Testes com vacina anti-Ébola têm resultados “promissores”

O primeiro voluntário no Mali foi o pediatra
Seydou Sissoko, vacinado no dia 8 de
outubro, na capital, Bamako. "Desde que
recebi a vacina, sinto-me bem. Não há
diferença na forma de como me sinto agora
e como me sentia antes", disse.
Dez outros agentes de saúde receberam mais
vacinas ontem. O exercício faz parte de um
grande estudo entre diversos países,
iniciado no Reino Unido em setembro.
"Sabemos que depois de duas semanas eles
estão a começar a ter alguma resposta
imune e não há reacções adversas", disse
Samba Sow, epidemiologista de doenças
infecciosas e especialista em vacinas e
director do Centro de Desenvolvimento de
Vacinas (DCV) no Mali.
O esforço envolve a Organização Mundial de
Saúde (OMS), os Institutos Nacionais de
Saúde dos Estados Unidos e a farmacêutica
britânica GlaxoSmithKline.
Especialistas esperam encontrar uma
maneira de desenvolver a imunidade ao
ébola, cujo surto já matou 4,8 mil pessoas
na África Ocidental. "O que me motivou a
participar no estudo foi o facto de que sou
médico e estarei regularmente em contacto
com pacientes (infectados pelo) ébola",
disse Sissoko. "Primeiro, é para me
proteger, e, depois, para ajudar a
comunidade científica a encontrar uma boa
vacina contra a doença."
Nesta semana, ele foi chamado para
investigar dois casos suspeitos de ébola –
um deles era de um homem que morreu
depois de sangrar pela boca.
No início, a família de Sissoko estava
preocupada com a sua participação nos
testes: "Expliquei à minha esposa e ao meu
irmão como (o teste) funciona e agora eles
estão tranquilos com isso. Mas eu não falei
sobre isso com os meus pais, porque acho
que eles não vão entender."
Vacina inteligente
No total, 40 voluntários estão a participar
no estudo, no Mali, – todos são agentes de
saúde aptos a lidar com casos do ébola se a
doença se espalhar pelo país.
Até agora, houve apenas um caso: uma
menina de dois anos de idade, que havia
viajado para um dos países mais afectados,
a Guiné-Conacry, em outubro, e morreu da
doença.
Samba Sow é outro voluntário do teste. "É
uma vacina muito inteligente, por isso
esperamos que, se a vacina funcionar,
estaremos protegidos e não ficaremos
assustados de fazer o nosso trabalho", disse
ele à BBC enquanto era vacinado junto com
outros nove voluntários.
Esse grupo de participantes recebeu o dobro
da dose dada a voluntários anteriores. A
ideia não é só investigar se a vacina provoca
uma resposta imunológica, mas também
descobrir qual é a dosagem eficaz.
As vacinas são mantidas em temperaturas de
aproximadamente -80°C numa sala cujo
acesso é restrito a apenas dois membros da
equipa – e a geleira é mantida trancada.
Sow explica que, ao contrário de muitas
outras vacinas, que utilizam uma forma
enfraquecida do vírus vivo, foi usado nesse
estudo um vírus modificado de gripe
comum que atinge chimpanzés, para
transportar uma única proteína do ébola.
O vírus não é capaz de transmitir ébola, mas
deve levar à produção de anticorpos contra
o vírus. "O vírus do chimpanzé pode causar
apenas um resfriado, mas não pode infectar
alguém", disse ele.
Os voluntários são observados durante a
primeira hora após a vacinação. Eles dão
amostras de sangue antes do teste e depois
de um dia, uma semana, duas semanas e 28
dias.
As amostras são processadas num
laboratório no centro de pesquisa. Os
cientistas extraem células brancas do sangue
– a parte do sangue que combate doenças –
e observam-nas em microscópio para ver se
há uma resposta imunológica.
Elas são, então, enviadas à Universidade de
Maryland, nos Estados Unidos, para uma
análise mais sofisticada destinada a
determinar se há a imunidade contra o
ébola. "O que esperamos é ter essa vacina o
mais rápido possível para que ela possa nos
ajudar a controlar melhor a epidemia", disse
Sow.

7 de Novembro de 2014

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