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sábado, 8 de novembro de 2014

A Renamo não quer ser desarmada

A partir da altura em que o Governo e a Renamo assinaram o segundo acordo de cessar-fogo, a
05 de Setembro último, em Maputo, abriu-se um caminho para o desarmamento deste partido e integração dos seus membros nas Forças de
Defesa e Segurança e na vida económica e social do país com vista a estarem em conformidade
com a Lei-Mãe, que não abre espaço para que os partidos políticos estejam armados.
Na última ronda do diálogo político, as negociações entre as partes voltaram a cair num impasse porque o Executivo exige que a Renamo revele quantos tem sob o seu comando, mas este partido, igual a si próprio, condiciona a
divulgação da tão desejada informação à apresentação do modelo de integração. Que
tempo este partido está a fazer para entregar as armas?
Ao agir desta forma, a Renamo está a criar um secretismo desnecessário em relação aos seus
guerrilheiros e não abre espaço para que o diálogo avance. Conseguir-se-á desarmar
completamente a "Perdiz"?
Na tentativa de fintar a contra-parte, este partido alega que tal exigência viola um dos preceitos do acordo. Para que os seus homens residuais sejam integrados à luz dos acordos
assinados com o Governo, o Estado e a Equipa Militar de Observadores Internacionais da
Cessação das Hostilidades Militares (EMOCHM) têm a prerrogativa de saber, entre outras
questões, quantas pessoas estão ou estavam sob o comando de Afonso Dhlakama durante cerca
de dois anos de tensão político-militar, quantas armas estão em poder deste partido e onde se
encontram. Os moçambicanos precisam dessa informação e só assim poderão viver em paz. A
luta pela democracia, de que a “Perdiz” se vangloria, e que todos nós reconhecemos o seu valor, não necessita de armas escondidas
algures.
A Renamo não deve condicionar a revelação destes dados à apresentação do tal modelo de
integração dos seus homens. A sua
desmilitarização é assunto sério, que deve ser tratado como tal e tornado público. Este é um
problema sobre o qual não pode haver segredos nenhuns.
Que interesse tem a Renamo em se manter um partido militarizado? O que pretende ao recusar
nos dizer de quantos homens e armamento dispõe? A insatisfação dos moçambicanos em virtude da demora do desfecho deste do dossier e a sua incredulidade na desmilitarização com sucesso da “Perdiz” não podem prevalecer.
Desejamos, vivamente, que esta crispação entre os Governo e o maior partido de oposição seja
efémera e fique realmente para a história. O líder deste partido, Afonso Dhlakama, não pode
se orgulhar por ser diabolizado e conotado como belicista e perigoso.
A guerra de que nos queixávamos há poucos meses não pode apenas significar o calar das armas, é preciso, acima de tudo urgente, que a Renamo ajude os gestores do Estado a darem a todos nós garantias de que para sempre teremos o poder de decidir sobre o nosso futuro com recurso ao diálogo e nunca mais por via armada.
Gostaríamos de estar certos de que a Renamo será conhecida e reconhecida pelo seu papel na
luta pela democracia assente no princípio de que o poder é do povo, deve ser exercido pelo povo
e para o povo, e nunca por ser um partido militarizado.

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